28 dezembro 2007



PARA SE PENSAR NO ANO NOVO




Um novo ano chega, e tantos pensamentos, planos, surpresas, parece que ficamos com a boca aberta, meio incrédulos, nao acreditando que um ano ja se foi... Voa... e quando nos damos conta, ficaram tantos projetos para tras, tantas coisas que planejamos e acabamos nao fazendo.

Hoje, mais uma vez, eu quero falar dos velhos. Quando comecei esse projeto, meu marido me disse: "Mary, por que voce nao faz um trabalho comunitário com crianças? Eu a conheço, voce vai se envolver demais e se deprimir". Mas pensei que não, que gostaria mesmo de trabalhar com velhos. Criança e uma renovacão. Eles por si só se fazem felizes, pela própria natureza de ser. Eles ainda tem um mundo pela frente. Tem o "acreditar". Nao precisam viver de lembranças, mas vivem de projetos.

Os velhos ali estão, parece que estancados no leito da vida. Tem limitacoes no andar, no falar, no se mover. Alguns lutando com sequelas de derrame, outros, sem poder andar, alguns fora do mundo...

Quando entro naquele lugar e engraçado o que imediatamente sinto! Uma energia, uma forca, uma vontade de estender minha mao, de tocar pessoas. Mas o mais engraçado e que tudo isso parece que vem em dobro para mim de felicidade. Como explicar? Parece que estou fazendo algo para mim, e nao para os outros. E uma satisfacão plena.

Quando entrei hoje, fui visitar aquela senhora que contei no outro post, que o marido morreu de derrame. Quando ela me ve, ela já sorri. Ela disse hoje para mim que não quer dormir durante o dia, pois perde o sono a noite. Disse que estava com o corpo doendo. Sentei na cama, e fiquei a conversar. Ela falou das suas dores fisicas. Das suas limitacoes. Contou novamente como encontrou seu marido. Reviveu tudo... depois disse: "Nossa, acho que eu ja lhe contei!". Eu disse: "Contou sim, mas alguns pedacos eu nao conhecia". Entao ela continuou contando. Percebi como era importante para ela contar. Falar. Relembrar. Parece assim um balsamo para uma ferida. A lembranca. A certeza de que ela teve alguem que ela amou. Hoje ela me disse que o marido era um otimo cozinheiro. E que era muito bom para consertar coisas na casa, tinha uma "mão boa" (como dizem no Brasil).
Apontou uma foto que ela tem ao lado da cama e disse: "Eu gosto dessa foto porque ela e a ultima que tiramos juntos.



Falou que ela se sentia as vezes deprimida em pensar nele. E eu ensinei ela a mentalizar coisas boas, a pensar em tudo de bom que tem, de pensar nele com alegria (como e dificil falar uma coisa assim...).
Sai e ela estava melhor. Segurou minha mao. Nao sei porque a mão dela me lembrou a mao da minha avó. Branquinha, macia, com as unhas pintadas de cor-de-rosa.
Eu disse: "Sua mão está bonita!" Ela disse: "Minha filha veio aqui e fez minhas unhas".
Prometi a ela que voltaria na segunda-feira para ve-la.

Passei pelo quarto da Laura. A velhinha que apronta cada uma (risos!). Ela é uma gracinha.
Hoje ela me chamou, e disse: "Nossa! que bom que voce veio!". Depois eu disse para ela se poderia tirar uma foto. Ela disse: "Sim, mas antes quero falar uma coisa para você, e você vai repetir comigo". Falou com o dedo no meu nariz. Concordei. Risos.

Ela levantou um dedo e disse:

I AM HEALTHY (eu sou saudável)
I AM HAPPY (eu sou feliz)
I AM ON MY WAY TO HEAVEN (eu estou a caminho do Paraiso).

Repeti. Ela riu alto e disse: "Ela aprendeeeeeu!". E ria como uma criança.

Tirei a foto. E ela sorriu.



Passei pelo quarto do Norman Wise. Ele e aquele que foi Sargento na 2a. Guerra. Faz questao que eu passe no quarto dele, para conversar. Entusiasma-se a falar dos batalhoes, dos tiros... (e eu que nao gosto de filme de tiro, fico escutando...risos). E mostra as medalhas. E fala das armas. E da bandeira. Falei para ele que eu me emocionava muito com o Hino Americano.



Vejam a condecoracao na parede. Ele é um Livro de Histórias.

Sai do quarto do Norman e passei no quarto da Isabelle. Essa é bem mais lucida. Talvez por isso ela sofra mais por estar lá. Sinto que ela tem uma lucidez muito grande, e conversa sobre tudo. Hoje ela me disse que nao estava bem. E eu disse: "O que voce tem?" Ela respondeu: "Nao é nada fisico e sim psicologico mesmo". Noto que ela é bem diferente dos outros velhos.

Já era hora de ajudar no jantar. Como gosto de fazer isso!
Vou de mesa em mesa colocando o chá gelado, água, ou limonada. Café. Conversando com eles.
A Laura (a velhinha de chapéuzinho vermelho) ja estava sentada lá. E me abanou a mao!

Já decorei o nome das pessoas.

De repente vem o Warren. Esse e um velhinho que vem andando com muita dificuldade. Entao para, e fica olhando para a gente. E eu digo: "Quer sentar Warren?" Ele murmura: "Acho que quero"... risos.. Seguro-o pelo braco, e levo-o para a mesa. Ele se senta, e fica a olhar para baixo.
Hoje cortei toda comida para ele em pedacinhos. Ele come com a mao. Nao consegue comer com o garfo. Depois eu o vi colocando manteiga dentro do suco. E ria. Como uma crianca.

Passei pela mesa do cego. Essa é a minha preferida. Como gosto daquele homem! Gostaria de um dia gravar algo em Braille que pudesse dar para ele ler, o que penso dele! (hoje estava pensando na volta, vou descobrir como fazer isso). Ou vou fazer um poema para ele.
Hoje fui colocar a comida dele, e disse: "Bill, hoje tem macarrao, espinafre... e...." (nao consegui distinguir que tipo de carne era, estava empanada). Eu disse: "A carne nao sei, vou perguntar". Ele disse: "Nao, nao precisa. E comivel, nao e? Ta bom...nao precisa nao!".

Tem sempre um sorriso no rosto. Como se a vida para ele fosse a coisa mais linda do
mundo. Come com prazer. Como se para ele nao fosse importante enxergar. Mas sentir.
O engracado foi que no final do jantar houve um problema eletrico e apagou a luz. E alguem disse: "Esta escuro aqui".
Ele sorriu. Vi atraves da sombra da sala que ele sorria. Por um instante tentei ler seu pensamento. Escuro... aquele homem vive no escuro. E age como se estivesse em plena luz... Como se estivesse dizendo: "nao esta escuro. Vejam...a vida é
iluminada".

Corri tanto. Para lá e para cá . Agua, cafe, cha, sobremesa... leite, suco, canudinho, mais um garfo. "Corta para mim?" "Abre esse saquinho para mim por favor?" "Poderia trazer mais gelo?" "Nao tem mais manteiga?" "Voce tem outro pao?"
Acabou o cream para o cafe.

Ai a minha velhinha de chapéuzinho vermelho disse: "Voce pode me trazer a sobremesa?" Eu disse: "Laura voce tem que comer a comida primeiro". Ela ficou muito séria e disse: "Eu quero minha sobremesa senao vou jogar tudo no chao!" Risos
(Lembrou minha filha quando pequena...).

O que sao os velhos mais do que criancas grandes? Tao inseguros em seus passos e seus atos... Tao sensiveis.
Qualquer palavra para eles, e uma GRANDE PALAVRA... Qualquer gesto, UM GRANDE GESTO.

Queria pedir uma coisa a voces. Aqueles que pensam em fazer algo no ano de 2008 por alguem, facam por um velho.

Fala-se tanto em criancas...no entanto quantos velhos nos Asilos estao abandonados, esperando somente a morte, enquanto podemos dar a eles um pouco de vida?
Conversem com eles. Perguntem de sua vida.
Sempre há alguem a perguntar para uma crianca: "Qual o seu nome?"

Entao pergunte para um velho: "Como vai voce?" mas depois de perguntar , nao passe sem ao menos escutar a resposta. Pare e sente para escutar o que ele tem a dizer. Com certeza, a sua resposta nao sera resumida em uma so sentenca. Ele vai falar muito o que tem em seu coraçao.
E voce vai ficar surpreso de quantas coisas vai descobrir naquela conversa. E vai sentir um sentimento de alegria interior, que vai surpreende-lo muito!


ERA POUCO





Era pouco
muito pouco o que aquele velho queria
em seus olhos pedintes
refletia o desejo de um entendimento
sem palavras
e sua boca tremula
talvez nao conseguisse murmurar
palavras com algum significado
mas pedia com seu silencio
um olhar de entendimento

Era pouco
muito pouco o que seu corpo fragil
podia lhe dar
passos inseguros com medo da estrada
inseguranca de vida
pedia com seu silencio
que a mao fosse estendida
o coracao pudesse entender
a mensagem muda
de seus labios cerrados

Eram poucas
suas lembrancas colecionadas
em cima de um criado-mudo
um porta-retratos com foto dos filhos
quando eram pequeninos
um velho radinho de pilha
um copo d’agua, uma pilula
uma saudade guardada
numa velha carteira de couro
no bolso de sua calca

Seu olhar de paisagem
fitava um canto qualquer
prescrutando uma saudade
em sua memoria vivida
recordava-se de enderecos
ruas, de calcadas antigas
e como uma crianca inocente
perdia-se nas lembrancas
Confundindo-se entre o passado
e o presente

Era pouco
o que pude dar a aquele homem
diante da riqueza de sua vida
ele havia passado por tantos pedacos
colecionado tantas dores
cada ruga de sua face
contava uma historia em silencio vivida
e fiquei ali a olhar aquele velho
a fitar sua figura fragil e delicada
plantada no fim da estrada da vida...

FELIZ ANO NOVO A TODOS VOCES!


®Mary Fioratti

Peço que me perdoem a falta de acentuacao! As vezes nao tenho paciencia para acentuar tudo, já que meu teclado nao tem acentos,e preciso recorrer a um "copiar" e "colar"...
Essa poesia eu fiz pensando no meu pai.

25 dezembro 2007




(Foto tirada pela Patti quando chegamos da missa)



NOITE DE NATAL




Hoje fomos a missa as 11 da noite. Foi uma missa maravilhosa.
Chegamos as 10:00 para pegar um lugar, pois o Coral comeca a cantar musicas de Natal as 10:30.
Tambem houve o "Coral dos Sinos", varias pessoas tocando sinos, formando musicas. Muito bonito.
No final, cantamos todos "NOITE FELIZ" (HOLY NIGHT) é realmente de arrepiar toda aquela multidao cantando.

Esse é o presépio de nossa Igreja:



Ja passa da uma e meia da manhã.


Tenham todos voces um FELIZ NATAL!


®Mary Fioratti

24 dezembro 2007



FELIZ NATAL




Meus amigos queridos:

Quero desejar a voces um NATAL MARAVILHOSO cheio de paz, amor e alegrias.
Obrigada por estarem aqui, durante o ano todo, lendo tudo que escrevo, e deixando-me
repartir minha vida com voces.

Que hoje possamos agradecer tudo que temos, e sermos infinitamente gratos a nossa SAUDE, essa joia preciosa que Deus nos deu!

Hoje vou no Asilo dos Velhinhos a tarde, ver aqueles que nao tem familia e ajudar a servir o jantar. Acho que isso vai me fazer sentir muito bem no Natal, pensando que posso dar um pouco de mim, assim como Jesus deu TANTO dele para nos.

A noite iremos a missa, as 11:00 horas. Mas as 10:30 comeca o Coral de Natal com musicas maravilhosas cantadas. Nesse coral ha muitas pessoas velhas, alias, de todas as idades, muito emocionante.

Sentados em baixo de nossa arvore, eu e o Roque rezamos todos os dias a partir de primeiro de dezembro ate o dia de Natal. Colocamos nosso Menino Jesus embaixo da arvore, e cada dia um faz uma oracao, e nela envolvemos todos nossos amigos e familiares e agradecemos por tudo que recebemos no ano.

E voces estarao em meu pensamento!


Um beijo carinhoso

FELIZ NATAL!

Mary Fioratti

PS: Na parede do lado da minha arvore ha um Cristo talhado na madeira que nos foi presenteado pelo irmao do Roque em nosso casamento. Com o sol, ficou parecendo somente os contornos dele. Vejam que assim mesmo ficou lindo!

20 dezembro 2007



NOSSO ANIVERSÁRIO DE CASAMENTO




Hoje é nosso aniversario de casamento. Casamo-nos em 21 de dezembro de 1979 na Capela do Centro Técnico de Aeronáutica (C.T.A.) em São José dos Campos.



Ja contei aqui como conheci o Roque, mas vou "recontar", para quem nao sabe.

Em 1974 ele comecou a dar aulas de Ingles no Colegio Particular Synesio Martins, onde eu fazia o terceiro ano de Secretariado. Na epoca ele trabalhava na Kodak como Supervisor de Cargos e Salarios. E dava aulas a noite.
Todas as meninas ficaram interessadas naquele professor novinho (na epoca, 24 anos), com um fusquinha vermelho envenenado (risos), calca boca-de-sino justinha, cabelos compridos e com uma personalidade muito determinada.

Na epoca eu tinha outro namorado, e quantas aulas de Ingles matei para namorar... Na verdade eu nao tinha dificuldade nenhuma, pois fazia um curso de Ingles, na Cultura Inglesa.

De repente me vi interessada por ele. Acho que era aquela personalidade de "durao". Nao dava bola para nenhuma menina.

Comecamos a "paquerar" (nossa que palavra antiga), nos ultimos meses antes da Formatura. Ele me pediu se eu poderia ajuda-lo a passar as notas na Caderneta de escola. E eu ficava depois da aula (ja interessada, claro) com ele na classe passando notas, mas tudo muito serio, passando notas mesmo....

No final do ano, ficamos juntos no jantar de formatura, e ele me levou em casa no seu fusquinha envenenado.
Pediu se podia me ligar. Eu disse, claro que sim. Pediu meu numero. E eu disse: "Olha, eu trabalho na Sociedade Construtora Aeronautica Neiva. O numero esta na lista".
Na verdade achei que ele nao ia me ligar.
No dia seguinte avisei a telefonista que se um cara chamado Roque me ligasse, que ela me achasse onde eu estivesse.
Um dia fui para S.Paulo, e ele ligou. E a telefonista entao disse: "Nossa! Ela estava esperando muito sua ligacao".
Ara...me entregou....risos..

Comecamos a namorar em fevereiro de 1975 no Carnaval. Namoramos quase cinco anos, e casamos em 1979.

Quem ve o Roque, e o conhece, dificil liga-lo comigo. Somos opostos.

Ele: calmo, equilibrado, tem muito cuidado com suas palavras, nunca toma uma decisao imediatamente, pensa no problema em diversos prismas, tem uma paciencia muito grande com tudo, fala devagar.

Eu: Impaciente, desiquilibrada, falo e depois penso, tomo decisoes imediatas (e me arrependo um minuto depois), penso num problema de um lado só, sou impaciente, falo muito depressa.

Lembro o dia que minha filha bateu o carro. Ela me ligou gritando no telefone (nem conseguia entende-la). Aí antes de sair de casa liguei para o Roque chorando: "A Patti sofreu um acidenteeeeee de carro"!!" Ele todo calmo, disse: "Voce sabe se ela se machucou?" (num mesmo tom de voz). E eu: "Nao seeeeiiiiiiii" E ele: "Mary, calma, vá indo com cuidado, encontro voces lá".

O que sempre me atraiu no Roque foi sua inteligencia. Aquela inteligência "quieta", sem alardes. Humilde, escuta mais do que fala.
Foi o primeiro aluno das duas Faculdades que fez. Sempre faz tudo com extrema dedicacao.
Só nao gosta muito de poesias. Lê algumas minhas. Ele nao sonha muito. Vive na realidade. Eu estou sempre sonhando...

Hoje fazemos vinte e oito anos de casados.
Falei assim: "Nossa parece que esses 28 anos passaram tao depressa, voce nao acha?"
Ele disse: "Verdade! parecem 28 minutos".. e completou falando baixinho: "debaixo d'água"...

O humor sempre foi muito importante para a sobrevivência de nosso casamento.

Parabéns para nós!

®Mary Fioratti

18 dezembro 2007





PAISAGEM (Poetrix)



Pintei o céu em meu corpo
e na madrugada
fui paisagem em suas mãos

®Mary Fioratti

16 dezembro 2007




O PAI DO MEU BLOG




Sendo cidadã americana desde 2001, tornei-me uma pessoa que reclama todos seus direitos. E por esse motivo, acredito que vou processar o Zé com "child support" (ajuda financeira para o filho).

Sim, porque o Zé na verdade, é o pai desse blog! (risos).

Foi ele há dois anos atrás quem me convenceu a fazer esse Blog. E lógico, me ajudou em tudo, nos pequeninos detalhes.
Quando tenho algum problema, dou um "grito", ele me faz entender e me ajuda a resolver (quando nao resolve).

Não parando ai, o Zé é aquele que socorre, não somente a mim, mas a um mundo de gente nessa net, que recorre a ele com duvidas, pedidos, que ele sempre faz questao de atender a todos com o maior carinho!

Um dia desses vi o nosso amigo Kafé agradecer o Zé por uma dica que ele deu. E assim ja vi tantas pessoas agradecendo pela sua ajuda, o que ele faz com a maior boa vontade.

O Zé é Engenheiro Mecanico por profissão. Curioso nato! Engenhoso, inteligente. Dar um desafio ao Zé é ter o resultado em pouco tempo.

Cauteloso, sempre examina tudo com muita atenção. Confio em suas intuiçoes. Porque alem de inteligente, o Zé tem um tremendo senso. E muita classe!

De vez em quando recebo dele um email de algo que ele descobriu, e que quer repartir comigo. E com que facilidade ele consegue entender coisas, e lidar com elas!

Tudo que faz é com carinho imenso, com dedicacao, gosta de passar para frente tudo de bom que aprende.

Mas a marca registrada do Zé é a sua "finesse" a escolher os assuntos que publica, as fotos que ele modifica, a musica que sempre casa direitinho com essa mistura de imagem e texto.

Blog do Zé:




Conheci-o pessoalmente (nossa Zé estou falando de um jeito que voce até parece um cantor famoso, né? risos) em 2004 quando fui para Marilia, cidade onde nasci, para visitar meus tios, tias e primos, todos do lado da familia de minha mae. Até então conheciamos-nos apenas por emails.

Tive nessa época a oportunidade de ir em sua casa, conhecer sua familia e saborear um delicioso bolo de morango. Tambem conheci a querida d. Ivette, sua mae que veio da Fazenda para me conhecer.

Zé, preciso dizer mais? Voce é uma pessoa que definitivamente mora em meu coração, e ali vai estar SEMPRE.

Quero lhe desejar hoje meu amigo querido, meu irmão, um MUNDO de felicidades! Que Deus o proteja, lhe de saude, amor, paz, e que esteja sempre ao seu lado o abençoando, e que seus sonhos todos se realizem.

E para voçê, que sempre nos distribuiu flores, aqui vai uma flor para voçê no dia de hoje com amor e carinho!



E deixo tambem um bolo de morango!



Um beijo carinhoso, um abraço apertado dessa sua amiga/irmã para sempre!


Mary Fioratti

13 dezembro 2007


(Transformei essa minha foto de hoje com tons antigos para combinar com o texto)

HISTÓRIAS DE AMOR E VIDA NO NATAL





A época de Natal é de fraternidade. E de reflexão. E aqui eu quero repartir com vocês, histórias de amor. Histórias que um dia poderão acontecer com um de nós.

Estar voluntariado nesse "Asilo" (chamemos assim, embora a realidade dos EUA seja muito diferente da realidade do Brasil), me faz ver coisas alem do que vejo.

Aqui é muito comum as pessoas velhas que possuem um imóvel, uma casa por exemplo, entregarem essa casa para o Asilo, como pagamento de sua estada. E é isso que muitos fazem, pois o custo é muito alto. Varia de $2,500 a $4,000 dólares/mês.

Ontem mais uma vez fui fazer o meu serviço voluntário. Vou dizer a vocês, que com a idade que estou, e contando toda minha vida profissional e tudo que fiz, nada me deu na vida mais satisfação, do que isso que estou fazendo. Difícil explicar a sensação de ajudar pessoas sem ganhar nada.
Sabe, isso que estou falando pode ate parecer "piegas" ou que estou fazendo "propaganda de mim mesma". Não e não.
Não estou recebendo em dinheiro, mas em experiencia de vida. E tambem a oportunidade de refletir muito.

Aquele lugar é um mundo de histórias, de vidas que tem um valor imensurável para quem participa dele.

Quando chego, me entregam um papel com a lista das pessoas que tenho que visitar. Existem as alas "A", "B" e "C", então lá vou eu a procurar meus pacientes.

Existe uma senhora que fui da primeira vez, que seu marido morreu de derrame cerebral em Agosto. Ela se sente muito sozinha, e gosta de conversar, e mostrar na parede as fotografias de seus sete filhos, a casa que o marido construiu, o carro que eles tinham. Há uma foto dela com ele na parede, bem perto dela, que foi tirada uma semana antes dele morrer.

Ontem pela segunda vez fui visita-la, e ela ficou feliz ao me ver. Conversamos bastante, (deixo-a falar mais sobre o que quiser falar). Ela já e bem velha, mas com traços bonitos.
Ontem, olhei na parede do outro lado da sua cama e vi sua fotografia com o marido, quando eles se conheceram. Achei tão bonita, que pedi para tirar uma foto dessa fotografia:



Eles se conheceram e ela tinha 16 anos e ele 18. Diz ela que foi um amor a primeira vista, e que nunca mais se separaram (foram casados 68 anos).
Ela fala e se emociona. E eu me emociono.

Sai de lá e fui visitar o Norman. Ele é um velhinho muito simpático. Foi Sargento na 2a. Guerra Mundial e com muito orgulho, conta todas as histórias. O companheiro de quarto dele parece estar meio "cansado" de ouvir essas histórias (risos), pois quando ele fala, liga a TV...

Esse homem tem um orgulho tão grande de ter ido para a guerra. Tem uma cômoda do lado da cama, cheia de fotografias. Ele me deu uma foto dele com o Presidente Ronald Reagan, os dois se cumprimentando. Tem medalhas, panfletos, tudo que vocês possam imaginar.

Pedi autorização dele, para tirar a foto de um cachorro de pelúcia que a bisneta dele presenteou-o. Uma especie de almofada.
Vejam que bonito:



As quatro horas fui ajudar o Toni do Restaurante a servir o jantar. Como gosto de fazer isso!
Pedi a semana passada um mapa das mesas, e decorei os nomes. Assim fica mais fácil de servir os pratos. O Toni os prepara e eu vou nas mesas levando, e também um carrinho com as bebidas, chã gelado ou água gelada.
Cada um tem uma dieta. Ontem fui levar na mesa do Norman, as sobremesas. E na mesa dele, tem uma velhinha chamada Isabella.
Ela não pode comer doce por ser diabética. Então ela me disse: "Olha, me de uma torta de maca hoje, por favor. Eu não quero comer essa fruta". O Norman pegou o pratinho e disse: "Não Isabella, você não pode, você e diabética".

Nossa! A velhinha levantou, e parecia que ia ter um ataque! Risos. Colocou o dedo na cara dele e disse: "Olha aqui, eu tive um marido durante 45 anos e não quero ter um outro nesse lugar aqui que fique podando o que posso ou não fazer!!!"
Todos olharam... e riram. Depois soube que ele gosta dela, mas ela não quer nada com ele.

Viram? O amor existe em todas as idades...

Há uma velhinha (essa eu adoro) que vem sempre com um chapeuzinho vermelhinho, mas ela e uma graça! Mas a gente pode notar que ela tem um temperamento que não e fácil!
Quer sempre duas sobremesas, esconde um pedaço de torta do lado da cadeira e diz que não ganhou torta (risos).
Ela me lembra sempre uma velhinha que faz parte das grandes piadas de velhos aqui nos EUA, a Maxine:



Sabe, são todos umas crianças-grandes.

Tenho muita pena de um velhinho que vem todas as tardes para jantar com sua mulher. Ela teve derrame cerebral e ele da comida em sua boca. Ontem, quando fui levar o prato dela, os dois estavam dormindo, ela com a cabeça no seu ombro e eles de mãos dadas.

Mas de tudo, o que mais me impressiona e um velho cego. Ele e o único que sempre elogia a comida. Quando coloco seu prato, ele diz: "O que tem hoje?" Então eu falo, e ele diz: "Nossa, esta parecendo uma delicia". "O cheiro esta tão bom".
Coloco café e ele diz: "Muito obrigada, o café esta delicioso".
Ontem ele me perguntou: "Esta nevando hoje?" Eu disse: "Não, esta apenas muito frio".
Ele disse: "Adoro esse tempo de frio, essa neve, e com a neve, tudo fica tão bonito"
Naquele momento senti uma coisa aqui dentro de mim, inexplicável. Vejam, aquele cego "VIA" a paisagem que nos, que enxergamos com dois olhos, talvez não vejamos com o coração que ele vê.
Talvez um dia ela já tenha visto, e guarde essa imagem. Talvez, ele nunca tenha enxergado, e imagine essa imagem.
O engraçado e que vou chegando perto da mesa e ele diz: "Olá, obrigada por nos servir". Ele pressente a presença, uma coisa admirável.

Meus amigos... quero dizer a vocês que essa tem sido uma grande experiência para mim. Gostaria que um dia vocês pudessem experimentar esse sentimento.
Quantas mãos se estendem nesse caminho a procura de uma palavra. Nos temos tanto! E eles, na reta final de suas vidas, tem tão pouco! E valorizam tanto tudo que tem.

Termino aqui com uma propaganda que tinha no Brasil ha muitos anos atras.

Aparecia o pai com o filho pequeno, e ele dizia: "Come, meu filho!" E o menino fechava a boca e não queria comer.
Depois, mais tarde, o filho já adolescente, o pai viu o viu fumando. Arrancou o cigarro da mão do filho e disse: "Não fume! Isso faz mal para a saúde!".

Então a propaganda mostra muitos anos depois, o pai velhinho e o menino um homem, o velho sentado na mesa, e ele dizendo: "Come pai! você precisa comer". E o pai fechando a boca, não querendo comer.
Depois o filho vê o pai escondido fumando na área, vai lá tira o cigarro da mão do pai: "Pai, cigarro faz mal!".

E isso me faz pensar: o que é a vida senão um reciclar?

®Mary Fioratti

09 dezembro 2007



TEMPO DE NATAL E NOSSA COLEÇÃO DE LEMBRANÇAS





Gosto de enfeitar minha casa para o Natal. Os enfeites são antigos, e nunca mudam. Esta arvore minha sogra me deu de presente quando esteve aqui. Na verdade, não é uma arvore de natal, mas eu a enfeito com bolinhas todos os anos, e coloco luzinhas. Gosto de ve-la no cantinho da minha sala.

Esses enfeites de parede, sao de uma loja que tudo custa $1 dolar. Na verdade, eu aprendi ir la com minha filha. Ela tem paixão por essa loja. Coisas de adolescente.
Minha casa tem pequenos enfeites, mas todos com um grande significado para mim. Não sou muito de "marcas", nem de lojas chiques. Acho que ja deu para perceber que sou brega (risos). Mas gosto de tudo que me apela os olhos.
Por exemplo, esses peixinhos:



Uma vez eu vi numa revista de decoracão, dois peixinhos assim, ao lado de um quadro na parede. Os peixinhos lembro, eram carissimos.
Um dia vi uma "copia" desses peixinhos numa loja muito popular aqui. Tipo assim, "Lojas Americanas" no Brasil (K-Mart). São de plastico. Comprei-os na hora. Cheguei em casa, e os pendurei na parede, ao lado de um quadro que tenho.
Então meus impulsos sao assim, e depois me trazem lembranças quando os vejo. E satisfazem meus olhos.

Nao tenho técnicas de decoracão. Acho que o gostoso e entrar em nossa casa, e ver tudo de acordo com o que a gente "sente".
Decorar para mim, é como se eu estivesse criando um pouco da minha historia e da nossa familia em paredes e cantos da casa.
Acho lindo esses filmes em que as pessoas entram em um ambiente e fixam os olhos em um objeto, e de repente como um filme atraves de seus olhos, surge uma história.




Em 1985 uma americana que trabalhava na mesma cia. que o Roque, foi ao Brasil, e ele levou-a ao Embu para comprar artesanato. E me apaixonei por esse quadro. Ele estava jogado num canto, e quebrado atras. Tem algo nesse vaso que me encanta. Essas duas rosas, o copo de vinho vazio, e uma pauta de musica... parece um livro de historias. Um quadro nostalgico. Parece que a pessoa que o pintou, colocou ali um pouco de sua vida.
As borboletinhas do lado minha amiga Noely me presenteou.

Toda vez que comeco a tirar meus enfeites de Natal parece que desenterro muitas lembranças. Lembranças que nao sao especificamente de Natal, mas que essa epoca do ano ressurgem.

Aqui vai uma foto de um Natal na casa de meus pais, eu e meu irmao, nem sei em que ano era...como estou "mocinha"... (risos). Ao lado do meu irmao, a arvore de natal com os presentes de amigo secreto.



Vamos buscar minha filha na 6a. feira depois dos exames da Faculdade. E com ela vem tambem muitas outras lembranças. Em seus olhos pretinhos enxergo um pouco da sua infancia com meus olhos de mae. Tenho vontade de tomá-la nos bracos, mas lembrando que ela é uma adolescente a embalo com meus olhos.

Assim é a vida. Uma sucessao de "recortes", que vamos pregando naquele Livro.
E com os lapis de cores de nossa alma vamos colorindo os desenhos de nossa vida como criancas com seus livros de colorir.

É a pintura feita por Deus de nossas vidas. Como Ele faz da natureza:






®Mary Fioratti

07 dezembro 2007


COM A PRIMEIRA NEVE, A ESPERA DO NATAL





Ontem fui surpreendida com essa foto, enquanto tirava o Papai Noel do armario.




Os anos passados, fazia isso com minha filha. Enfeitavamos a casa, e ela me ajudava a armar a arvore.
Este ano, ela vem para casa somente no dia 16 de dezembro, entao ja comecei os preparativos, pois quero que a casa esteja bem bonita quando ela chegue.

Comecamos tambem nossa novena de natal agradecendo tudo que tivemos esse ano.

Esta foto tirei nesse momento, da paisagem fora da minha janela:



Recebi um email de meu irmao agora: "Mana... que legal! ADOOOOORO FRIO e neve nessa paisagem bucólica, sem cor."

Essa semana fui pela primeira vez no meu servico voluntario, na Casa dos Velhinhos.
O ambiente esta puro Natal! Arvores coloridas, enfeites, e ate Papai Noel.

No dia que fui, houve a festa de aniversario dos que aniversariam em dezembro. Um pianista veio tocar musicas de Natal, e tambem cantar parabens para eles.
Ele os chamava pelo nome, e cada um levantava a mao dizendo sua idade. Um velhinho,
dormia na mesa, segurando um copo de suco.
- Sr. Joe! Parabens! Quantos anos o sr tem?
E o velhinho, acordou, sorriu e disse:
- Tenho 98.
Os outros, comiam as bolachinhas contentes, e batiam o pé no chao acompanhando a musica, ou tamborilavam na mesa.
Outros, totalmente ausentes, olhavam assim com aquele olhar de paisagem (um dia desses minha tia Carmencita usou essa expressao, e a achei perfeita para aquele olhar perdido...)

Fui depois visitar as "minhas pacientes", no entanto somente uma estava acordada.
Ela me contou que a familia dela era de 8 pessoas, e que eles foram muito felizes. E me falava de um jardim...e repetia...o jardim... e fiquei imaginando na minha cabeca que esse jardim deveria ser colorido, bonito, e aquela velhinha de cabelinho branco, era jovem, sorridente, e ate a vi cercada dos filhos.
Fiquei com vontade de perguntar da familia. Mas nao pude.

Temos diversas regras para ser voluntarios: nao podemos perguntar da familia, nao podemos sentar na cama deles, ajuda-los a comer, ou a se vestirem. Apenas escuta-los, e conversar.

Prometi a Bety (o nome dela) que voltaria na Segunda-Feira. Perguntei se ela queria que eu empurrasse a cadeira dela para o quarto, (ela estava no corredor), e ela disse: "Nao, eu estou esperando minha companheira de quarto. Enquanto ela nao chega, eu nao entro. Me preocupo com ela, sabe?"

Fidelidade.

Depois fui ajudar a servir o jantar.
Ha uma coordenadora que tem tudo por escrito, quem come o que. Diferentes dietas.
E ela ia me indicando onde levar os pratos.
Esses sao os velhinhos que comem sozinhos e sao independentes. Assim mesmo, que dificuldade eles tem de chegar ate a mesa. Uns andando, outros em cadeiras de rodas.

Alguns alegres, outros tristes, uns apenas quietos. Me apresentei a cada um. E sempre adiciono uma pitada de interesse, dizendo que sou do Brasil. Eles me olham com os olhinhos arregalados e dizem: "Do Brasil?" Parece que vim de Marte! (risos). E eles se maravilham de conhecer uma pessoa que veio de outro pais.

Um velhinho dormia na mesa, e fui levar o prato dele. Eu o acordei e ele disse: "Nossa! ja é de manha?" Eu disse: "Nao, é a hora do jantar". Ele disse: "Nossa, tempo voa, nao?" (risos).

Um outro, me contou que lutou na 2a. Guerra Mundial na Italia. E contou-me que um batalhao de brasileiros o salvou. Chama-se Norman.

Fiquei impressionada quando fui servir um velho e ele me perguntou o que tinha no prato. Era cego. Eu o havia visto entrando sozinho na cadeira de rodas. Com certeza sabe o caminho de cor...

Alguns com o olhar perdido. Outros, olham em volta, sorriem.

Em uma mesa, diferente dietas. Quatro velhinhas sentadas. Levei os pratos e para duas, era apenas arroz com vagem e pure e as outras duas, hamburguer com batatas fritas.
Uma delas olhou para mim e disse: "Eu quero hamburguer com batata frita!". Eu disse: "A sra. nao pode, essa é a sua dieta".
Ela me disse: "Mocinha, eu estou muito velha para dietas. Me traga hamburguer com batatas fritas!".

Um outro velho me pediu café. E pediu um canudinho. Eu disse: "O sr. tome cuidado para nao queimar a boca". E ele disse: "Mocinha, eu tomo isso todos os dias. E nunca queimei a boca!".

Risos. Mocinha! Gostei desse trabalho voluntario! Afinal, entre 80, 90, e até um de 101 anos, eu sou MOCINHA mesmo, nao sou?

Mas vi muitos velhos sozinhos nos quartos. Uma area onde ha doentes mentais. Depois da festinha de aniversario, me pediram para levar uma para o quarto, ela estava em uma cadeira de rodas. Ela me disse que nao pertencia aquela ala. Que ela nao era doente. Colocou o pé no chao, e me impediu de puxa-la. Tive que chamar a enfermeira.

So quero dizer a voces que foi uma experiencia muito valiosa.

Na verdade, estou "dourando a pilula", pois nao é tudo tao bonito como descrevi. Na verdade, eu tentei ver de um modo bonito.
Mas é uma grande reflexao.

Uma semana antes do Natal vamos preparar as velhinhas para a festa. Fazer suas unhas, arrumar seus cabelos.
Engracado, estava lembrando agora. Vi na mesa uma velhinha de cabelinho branquinho, e comprido, ate o meio das costas. E lembrei de mim. Porque eu sei que vou ser uma velhinha de cabelos compridos.
E no momento que a vi, fiquei a pensar se um dia eu estaria num lugar desses...


®Mary Fioratti

PS: Resolvi que vou escrever um livro. Com nomes ficticios, é claro.