A HORA DE SER FELIZ
Adotei minha filha com quatro dias...e a hoje a vejo com 16 (quase 17 anos).
Desde pequenos, a mae principalmente, passa por todas as fases que o filho passa.
E com isso ela revive a infancia. Retrocede ao tempo, faz coisas que ja fez, e velhos conhecidos sentimentos afloram.
Sentimentos que estavam esquecidos e enterrados com o tempo. Tornamo-nos criancas.
E nos entusiasmamos com a alegria que vem deles.
Depois eles vao crescendo... aos poucos vamos vendo as pequenas diferencas que se acentuam, em detalhes talvez ate minimos, mas que somente uma mae estando perto, pode nota-los.
Quando minha filha tinha 7 anos, disse assim: "Eu ja estou mocinha, pois sei fazer bola com o chiclete e sei andar de bicicleta".
Aqueles pequenos aprendizados significavam para ela A VIDA. Como seria facil se a vida fosse somente aprender a fazer bola com chiclete e andar de bicicleta!
Depois ela disse que quando fosse mocinha, queria lavar louca e dirigir. Acho que o primeiro projeto ficou esquecido, embora ela tenha aprendido o segundo.
Foi o tempo dos longos abracos, dos beijos na boca, do carinho espontaneo. Na multidao, eu sempre encontrava o olhar dela a procura do meu.
Tantos anos se passaram, no entanto para uma mae, é como se fosse apenas cinco minutos... de repente a gente olha, e se assusta.
Eles comecam a crescer, a ter sua propria personalidade. A nos encarar de uma forma diferente.
Sempre levei minha filha em todo lugar de carro. Quando ela aprendeu a dirigir, (aqui se tira carta com 16 anos), achei bom que ela fosse independente. Depois de um certo tempo, comecei a me sentir uma inutil! Eu a via sair, pegar o carro, e eu tinha vontade de leva-la.
Sensacao de inutilidade.
Ha alguns meses atras, ela ainda me chamava na hora de dormir, para abraca-la, beija-la, e nessas horas me contava coisas que se passavam com ela.
As vezes eu queria estar no meu computador, e ela me chamava, e eu ia, mas muitas vezes com vontade de estar aqui.
Hoje... ela nao me chama mais...ela "ela ja esta adulta" para beijar... "Pode dar um abraco, mae, mas beijar, nao!".
Lembrei-me entao da epoca que ela estava com 12 anos e tinha vergonha que eu acenasse da janela quando ela pegava o onibus.
Entao, hoje, eu estou aqui no meu computador, e ela esta em seu quarto, a musica tocando alto no CD, ouco o barulho dela dancando, ou falando ao telefone. Quando subo ate seu quarto...ela olha para mim como se eu fosse uma intrusa.
Outro dia, antes de dormir, fui ate seu quarto e disse: "Posso dar um beijo?" E ela: "Nao, so um abraco". Mas fez uma cara que eu preferi nao dar nem o abraco.
Subi para meu quarto, e daqui a pouco ela estava la: "Mae, desculpa, pode dar o abraco sim".
Quantas contradicoes existem nessa fase. Nao somente contradicoes da parte deles, mas contradicoes de nossa parte.
Queremos ser modernas, e ao mesmo tempo, conservadoras.
Ontem, nos duas no Supermercado, e ela pergunta: "Mae, se um dia eu pedisse, voce me compraria camisinha?" E eu: "Compraria sim". E ela: "Maeeeeeeeeeeeeee voce nao deveria dizer isso, se um filho meu dissesse isso, eu bateria nele". E eu disse: "Filha...nao acho que voce deveria fazer isso por fazer, mas quero apenas dizer que o dia que achar que deve, que chegou a hora, peca sim para mim, eu compro".
Que coisa mais dificil de se dizer. Por mais MODERNA que eu seja.
O ano que vem, ela ira para a Faculdade. Aqui nos EUA é normal que o filho more no dormitorio da Faculdade, e alguns (poucos) moram em casa.
Os pais nao veem a hora dos filhos sairem de casa. Ficam ansiosos para deixa-los seguirem suas vidas.
Lembro de uma das maes, que dizia: "O ano que vem, quero ver se arrumo Faculdade no Alaska para meu filho"...
Essa fase dos 17 anos, é uma fase de preparacao para os pais, para que deixem os filhos seguirem seu rumo.
E eles se tornam tao chatos, cobram tanto, dao tanta preocupacao, sao tao ariscos, que Deus fez até isso certo: essa fase da chatice, para encararmos com mais naturalidade a ida deles para algum lugar.
A principio quando eu pensava, desatava a chorar... nao podia nem "pensar" no fato de minha filha sair de casa.
Hoje ja penso diferente. Penso que ela DEVE ter essa oportunidade de sair, morar sozinha (com uma companheira de quarto), para que ela possa dar mais valor a tudo que tem hoje (e sei que ela vai dar!).
Gostaria de nao precisa-la acordar pela manha e arranca-la da cama, mas que ela por sua propria iniciativa, levantasse.
Mas essa parte a culpa é minha! Sempre gostei de paparicar, é o meu jeito de maezona.
E ontem eu pensei: esta na hora de procurar minha felicidade. Quando minha filha sair, eu quero fazer muitas coisas para preencher o meu tempo. Quero talvez voltar a estudar, fazer um Curso de Espanhol (que aqui é tao necessario). Vou me dedicar mais a ginastica do que me dedico hoje. Quero ler mais. Nao estar sempre correndo feito uma louca, parecendo que o relogio anda contra mim.
Quero fazer as coisas mais devagar. Nao me desesperar com minha falta de tempo. Curtir jardinagem, televisao, andar a pé, escrever poesias, nos fins de semana, dormir ate mais tarde. Deixar a casa como esta e nao correr com nada.
Pensar em mim.
Na minha hora de SER FELIZ.
®Mary Fioratti