24 dezembro 2012




PSICANÁLISE DE FIM DE ANO


Uma vez, quando eu tinha 25 anos, comecei a fazer psicanálise. Fui mais por curiosidade. Na verdade não havia nada na minha vida que me preocupasse assim tanto que tivesse que pedir ajuda a um profissional... No entanto, lá fui eu.
Cheguei ate a deitar no divã (como nos filmes). Mas não conseguia me abrir completamente.
Devo ter ficado uns 3 meses? Quase isso. E um dia o psiquiatra me disse: “Olha, acho que você no momento não precisa de psicanálise. Todos nos temos nossa vida como um bolo, toda repartida em fatias. Você consegue agora separar perfeitamente e definir essas fatias".
Fatias...
Fiquei a pensar sempre nas fatias desse bolo. E pensando se esse psiquiatra seria realmente um bom psiquiatra ao me “dispensar”, e me deixar na mão um bolo (seria de chocolate?) - cheio de fatias...

Aqui nos Estados Unidos estava passando por uma fase muito difícil com minha filha adolescente. Nada escabroso, apenas adolescência... (acho que vocês sabem o que quero dizer). Um dia brigando com ela, comecei a jogar as coisas em casa, chutei a porta do banheiro e abri um buraco,
fui no meu medico pedir um calmantezinho...(risos) e ele me mandou para uma psicóloga.

Lá estava eu novamente deitada no divã, falando do meu bolo de chocolate...

Só que desta vez ele não era tão gostoso...Mergulhei em muitas profundas reflexões, voltando até o tempo de criança, e percebi muitas coisas. Certas reacões que eu tenho ate hoje, que foram marcadas pela minha infância. Também, isso não e novidade alguma, pensando bem, quem não tem?

O gostoso dessa psicanálise é que eu fiquei muito amiga da Medica. Dizem que a gente não pode ser amigo de Psicólogo, então todo tempo eu dizia a ela isso... ela ria muito.
Eu dava-lhe abraços calorosos na minha chegada. Trouxe pão que fiz em casa de presunto e queijo, e até brigadeiro.

Havia horas em que eu me via perguntando coisas dela (risos) e eu via que ela sempre voltava ao meu assunto, delicadamente.
Nela eu consegui ficar 1 ano... mas sai novamente com as minhas fatias... Desta vez quem sabe, o glacê do bolo estava mais firme... o recheio mais bem distribuído.

Mas percebi que eu levaria essas minhas fatias a vida toda...porque essas fatias são a VIDA. Por mais que saibamos separá-las, sempre haverá momentos em que elas novamente se juntarão em um não tão delicioso bolo inteiro.

Percebi que eu não sirvo para deitar em divã...não sirvo para repartir bolo de chocolate, percebi que não consigo dizer coisas que estão muito dentro de mim, talvez coisas que "eu nem sei o que são", outras que sei e não quero dizer.

Psicanálise de fim de ano...

Todo ano quando termina o ano ficamos pensando: "o que não fiz esse ano?" "o que eu poderia ter feito melhor?" "no que falhei?" "o que posso melhorar?".

Então minha teoria das fatias, volta novamente no bolo, mas esse bolo que a criança come e se lambuza...

Essa inocência em comer o bolo, nem pensando nas fatias... Apenas sentindo o gosto do chocolate na boca, lambendo com os dedos a cobertura...roubando as cerejinhas...

(Lembrei-me agora de um fato da minha infancia...minha mãe havia comprado um ovo de pascoa para cada um de nos. Deixou o meu em cima da cristaleira da sala. De repente procurou-o e nao achou. Ficou me chamando, ate que me viu sentadinha no portao. Ai me chamou: "Maria Ines, voce viu aquele ovo de Pascoa que estava em cima da cristaleira?" Eu virei com a cara toda "marrom" de chocolate e disse: "Nao vi nao"...risos).

Assim que é a vida...descobri na minha psicanálise pessoal (olha que chique!) que talvez o que o primeiro psiquiatra tentou me dizer, é que eu na verdade sei como administrar o bolo, mas eu acho que ele é inteiro.
Sabem por que?

Eu administro a vida, entrando nela de cara. Inteira. Sentindo todos os momentos possíveis e imagináveis.
Pronto! Descobri! Eu vivo meus momentos em fatias...sentindo o gosto de cada uma, em situações diferentes.

Então assim vou indo, sentindo cada coisa que faço. Muitas vezes tenho uma sensação estranha que devo sentir aquilo que estou fazendo, porque talvez seja a ultima vez que eu faca.
Então vocês poderão pensar: "nossa que deprimente!". Mas não é! Vejo como um modo de valorizar as pequenas coisas que normalmente passamos por cima como se elas fossem dadas por Deus de uma forma obrigatória.

Mais ou menos assim: sabe aquelas pessoas que quando ficam doentes, começam a olhar as coisas com outros olhos? Eu não quero esperar eu ficar doente para olhar as coisas assim. Quero olha-las AGORA que tenho saúde, que posso admira-las. E que posso agradecer por elas.

Um dia desses fiquei a pensar um pouco no modo que alguns americanos se portam. Sinto uma admiração muito grande pela cultura deles em muitos pontos, (mas muitos!) e principalmente como eles encaram a morte. Eles tem uma forca interior, algo que eu não sei explicar em palavras. O pai de uma amiga minha esta com câncer no pulmão. Ele tem 92 anos. Foi ao medico e descobriu agora no fim do ano que o câncer esta se espalhando em seu organismo. Ele decidiu não fazer quimioterapia, o que foi aceito pela família.
Outro dia ele saiu de casa para renovar sua carteira de motorista. Voltou e disse para minha amiga: "Pronto, revalidei ate 2016!".
Ele se porta como se não estivesse doente, embora sua figura frágil, sua respiração diferente, mostre isso.
Ele esta doente, mas não deixa de olhar as coisas de um modo até "positivo". Vocês entenderam?
Nesse fim de ano, quis uma festa com a família. Fizeram num Clube o Natal. Com certeza seu ultimo Natal.

Penso hoje...o que é mais importante pensar nesse fim de ano? Que promessas vou fazer? Quais as minhas resoluções para o ano de 2013? Não é isso que todo mundo pensa?

Já pensei tantas coisas nos anos em que eu era mais jovem: "quero emagrecer", "quero ganhar dinheiro", "quero viajar", "quero trocar meu carro", "quero ter um filho"...

Como a idade nos faz mudar nossas "resoluções"... que bonito isso! Embora muitas vezes eu não goste das mudanças do meu rosto, ou no meu corpo eu gosto muito, mas MUITO mesmo de mim nessa fase da minha vida!

Sinto-me como uma adolescente ainda, maravilhada com tudo. Os números que se somam na minha existência são muitos...mas por dentro eu não sou nada mais nada menos do que uma deslumbrada com a vida... E isso me traz sempre pessoas tão ricas que encontro em tantos lugares.

Sinto-me mais ou menos na estrofe de uma poesia do poeta e artista plastico Mario Feijo:

ESTAÇÕES DA VIDA


Quando crianças
Somos feito a primavera
Florida e cheia de vida...

Quando adolescentes
Somos tal qual o verão
Quente, sol ardente
Tempestades passageiras
Sonhos de uma nova estação...

Quando adultos
Somos o outono
Cheio de frutos
Tempos mais frios
Que um dia irão chegar...

Quando velhos
Somos o inverno
Que muitos evitam
Porém seu frio
É inevitável de sentir...

Sou e sempre serei sonhos de uma nova estacão!

O que eu quero para mim nesse ano de 2013? Eu quero VIVER!!

O primordial para mim são as PESSOAS. São meus sempre AMIGOS. São os novos que a cada ano eu conheço.

Quero sempre aprender sentimentos, com muita SEDE...
Adoro ler pensamentos (meu marido que o diga! risos)... mas adoro olhar no rosto das pessoas e imaginar o que elas sentem por suas expressões.

Quantas coisas esse ano aprendi! Como estou mais rica em sentimentos!

"Sin perder la ternura jamás!"


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Isso e tudo que quero para 2013.

E ofereco a cada um de vocês uma fatia bem cheia de recheio, do meu bolo de chocolate. Se nao gostarem de chocolate, escolham o sabor preferido.

O importante é o gosto! E o sentimento.

~Mary Fioratti~

12 maio 2012


O LIVRO INVISIVEL DE MINHA MAE

A cada dia tem algo que me lembra você, seja em qualquer coisinha pequena… um calendário da Seicho-No-Ie, seu caderninho de receitas…
Tenho um caderno de receitas que você me deu quando casei, e na primeira pagina você colocou: “Receita de Feijão”… Ai você escreveu direitinho como se fazia feijão Então, de repente eu lembrei um dia, você na cozinha, e você chegou bem perto de mim e falou baixinho: “ninguém sabe do meu segredo, mas eu coloco uma colherzinha de maisena no caldo do feijão para engrossar”… E você nem escreveu essa dica no caderno…(risos).
Somente alguém pode entender o verdadeiro valor de uma mãe quando a perde. Enquanto ela esta viva, as lembranças estão ali com ela. Mas quando ela morre, parece que as lembranças começam a florescer, e começamos a entender tantas coisas que não entendíamos… A mãe deixa um legado de vida, que a cada ano eh mais e mais entendido Eh como se ela tivesse escrito indiretamente um livro diário de ensinamentos através de suas atitudes, de seu carinho, desprendimento, amor, e de repente nos vemos virando as paginas invisíveis desse livro, a cada dia que passa. Alias, parece mais um livro de receitas. A receita de viver, de entender, de aceitar.
E quando temos um filho, eh maior ainda o entendimento do amor de uma mãe, e começamos a perceber tudo aquilo que nossa mãe fez por nos.
Você mãe, era assim: A gente podia estar de qualquer jeito, com qualquer cara, e você dizia assim: “Como você esta linda!”. Sempre estava a levantar nossa moral, fazendo com que a gente se sentisse tão gente!
Um dia desci a escada de casa vestindo um maio. Então você olhou para mim e disse: “Nossa, que corpo lindo!”. Aquela época eu era gordinha… e você me achava o máximo…mãe!
Somente uma mãe nos acha o máximo, entende nossos medos, não leva a mal o que falamos, lê os pensamentos…
Assim era você mãe, procurando sempre uma formula magica para nos fazer felizes. Que fosse no seu feijãozinho temperado, no arroz branquinho, naquele xuxu com molho branco, na torta de frango, no pudim de leite condensado, ou no manjar branco Ou sentada no sofá, fazendo a barra de nossas calcas jeans…
Levantando de seu soninho da tarde, com aquele penhoarzinho cheio de botões na frente, cheirando a leite de colonia. Sentava para tomar café meio sonada, com aquele seu sorriso meio desmaiado de sono.
Ainda me lembro de voce no espelho, colocando seus cremes, o pó de arroz da Cashmere Bouquet (a cor era Rachel), e aqueles batons vermelhos, que ficava tentando acertar o contorno de sua boca. Depois, o colarzinho, sempre o colarzinho e o brinquinho, extremamente feminina. O perfume “Charlie”… O creme de limpeza da Ponds.
No calor você sempre gostava de calca branca, que colocava com suas blusinhas estampadas. Sandálias abertas, sempre mostrando seu pé tão bem feito.
Você era o símbolo da feminilidade, mãe!
Que saudade sinto de você nesse momento. Uma saudade física, de lhe dar um abraço muito apertado, de sentir seu cheiro, de ouvir seu riso. De olhar para seu rosto e ver aquele seu olhar extremamente bondoso. De entrar em casa e vê-la tricotando no sofá, aqueles lindos paletó zinhos de tricô, cheios de lacinhos e rococós Eu adorava ir com você no Bazar Estrela comprar rococós, e lacinhos… como eu curtia!
Depois de ver suas criações… de todas as cores. Quanto capricho. E quantos pensamentos iam juntos com aqueles casaquinhos… pensamentos que você tinha enquanto tricotava.
Que vontade tenho hoje de vê-la andando no jardim aparando suas rosas, e conversando com elas. Cuidando de seus antúrios no nosso terraço
Daquela bala de coco que você fazia e eu ficava na cozinha um tampão puxando-a com você…
Das suas mãos carinhosas, dos seus passinhos miúdos
Sua inocência formou um foco de luz em minha saudade.
Seu riso alegre, alto, esta na minha memoria estampado.
Seu rosto suave. Terno. Sua beleza espiritual.
Hoje mãe, eu queria dizer especialmente que te amo. Te amo de verdade mesmo, com todo meu coração e alma.
Quero dizer hoje, reafirmar isso, porque eh Dia das mães Mas saiba que esse mesmo sentimento me toma, todas as vezes que abro seu livro invisível Nele eu enxergo sua bondade, tenho o exemplo de sua paciência, e muitas palavras que você me disse que nele ficaram gravadas.
Orgulho-me de ter vindo de seu ventre. De ter sido embalada pela sua alma e pelo seu amor.
Feliz dia das mães, mamãe! Onde você estiver. Obrigada por ter me gerado, e me dado vida.
E por ter me deixado esse livro invisível que esta bem guardado no armário do meu coração.
Sua filha