21 janeiro 2008




Quando chegamos em Detroit em Outubro de 1990, tivemos o primeiro feriado, que foi o de Thanksgiving (Ação de Graças) no final de Novembro. Fomos então convidados para um jantar na casa de um Diretor da Valenite (onde o Roque trabalhava). Lembro que estava bastante frio, a Patti tinha um aninho e estávamos somente há um mês nos Estados Unidos.

O Diretor chamava-se John Henson, e morava em uma casa tipo rancho, que ficava um pouco longe da cidade.Uma das coisas meio chatas na adaptação a um outro país, é como se vestir nessas ocasiões. Eles têm uma linguagem própria deles, como "casual", mas esse "casual" pode às vezes ser mais sofisticado. Não me preocupei com roupa e me fantasiei de Mary. Lembro que vesti jeans, uma camisa, um casaquinho e mocassins. Lembro que estava frio, e nevava um pouco.

Lá chegamos e olhei as janelas por dentro todas iluminadas, com aquele "ar" de festa.Fomos muito bem recebidos pelo John, e tiramos os sapatos o que é o costume aqui, principalmente em tempo de inverno. Entramos naquela sala muito acolhedora, a lareira acesa, uma mesa cheia de salgadinhos, almofadas para todos os lados, e eu já fui sentando no carpete (risos). É assim que me sinto bem, quando consigo ser eu mesma. Assim como em casa, estamos sempre sentados no chão.

Havia também um Diretor de Recursos Humanos da Alemanha, simpaticíssimo! Quando encontramos pessoas assim, não importa nem a comunicação falada. Digo isso porque eu era iniciante tanto na cultura, como no falar. Mas era algo mesmo de alma. A conversação fluía tão fácil, e era como se os corações estivessem falando.

Havia uma parte mais elevada da sala, onde havia uma lareira. Em uma cadeira de balanço na frente da lareira, estava sentado o pai do John (dono da casa), com um copo na mão. Ele balançava naquela cadeira, olhando de longe a nossa reunião, com um olhar meio perdido, aquele tipo de olhar que os velhos têm, que parecem estar imersos em seu próprio mundo.

Começamos a tomar vinho, comer queijinhos diversos, pãezinhos, e a uma certa altura, como eu sempre faço nos lugares que vou, desliguei-me do tempo e me detive na beleza do cenário. Olhei aquele velho sentado em frente da lareira, olhei para a janela e vi a neve lá fora, (e tanto calor ali dentro...calor da lareira, calor humano), a música suave tocando no fundo... e de repente me senti fazendo parte de um filme americano. Não sei se algumas vezes vocês já se sentiram assim. Como se não fosse "vida real", como se eu estivesse apenas participando de um momento. Desliguei-me do cenário e parecia apenas uma expectadora.

Depois de conversarmos bastante, fomos levados para uma sala de jantar muito bonita, onde foi servido lasanha, peru, uma bela salada, com pão de alho. Foi um jantar nada convencional para um Thanksgiving, que normalmente é servido peru, batata doce assada, milho, purê de batatas com gravy (que é o molhinho que eles colocam em cima do peru).

Todos conversavam ao mesmo tempo, rindo alto, passando o pão e o vinho. A simpatia dos donos da casa era invejável. Lembro que a esposa do John, muito agradável, tinha uma risada que me lembrava o barulho de copos de cristal, é apenas uma analogia que às vezes fazemos. Essas coisas que a gente ouve e relaciona com algo sem saber o porquê. Depois do jantar, fomos para a sala onde foi servida uma torta de sobremesa, com sorvete e uvas.

Olhei para a sala, a lareira, e ainda balançando na cadeira, o velho segurava o seu copo, ouvindo aquela música que ecoava no ambiente, e olhando de longe, ele fazia parte daquele momento como algo histórico. Algo que eu senti que jamais esqueceria. Lembrava-me velhos filmes que eu havia assistido antes.

A Patti brincava no carpete, e a esposa do John trouxe um bichinho de pelúcia (um leãozinho) que era do filho dela quando era pequeno (e que por coincidência o filho tinha sido também adotado). Até hoje guardo aquele leãozinho, e toda vez que olho para ele, me vem essas lembranças. Nunca mais esquecerei este jantar. Foi um marco na nossa chegada nos Estados Unidos. Aquela sensação de aconchego, de carinho.

Não sei se eles ainda moram na mesma casa, mas muitas vezes penso em procurá-los, ou saber o endereço para escrever uma cartinha dizendo como foi importante para nós aquele dia. Com certeza nunca passou pela cabeça deles o impacto tão positivo que teve esse jantar em nossa chegada nos Estados Unidos.

Mary Fioratti

17 comentários:

Anônimo disse...

Olá,cunhadinha
E não é essa a graça da vida?
Lembranças,recuerdos de coisas e pessoas que passam por nós, deixando assim um pouco deles impregnados.
Importante absorver estes momentos,vive-los,e depois ter esta lembrança tão bem descrita por você,me senti presente, sentadinha num canto desta sala...bons momentos!!
Querida um beijão,muita luz e paz!
Cultive sempre bons pensamentos1
Te

Kafé Roceiro disse...

E porque não entra em contato com eles. É tão gostoso quando a gente fica sabendo que fez bem para alguém ou vice-versa. Acho que deve demonstrar seus sentimentos.
Muito legal!

Um beijão,

Sergio disse...

Olá, Mary!

Até eu jantei..rs...sua naração foi perfeita...e so com bons sentimentos isso acontece. Se nos encontrarmos em 2020, lembrarei desse post.

Um beijo

Anônimo disse...

Mary querida, são momentos como esses que vale a pena viver e ser feliz! Momentos inesqueciveis, que ficaram sempre na memória! :)

Um doce beijinho para ti*

Anônimo disse...

Mary, from my blue desert, wishing u a nice day! joel

O Profeta disse...

Adoro as tuas divagações de vida...




Inventei uma cidade colorida
Pintei um lago ao pé da tua porta
Coroei-te com diadema de sal
Lancei à sorte esta folha já morta


Boa semana



Doce beijo

Nilson Barcelli disse...

Mary, a descrição que fez desse jantar, faz com que se vejam e sintam esses belos momentos como se estivesse a assistir a um filme.
Você sabe narrar os factos com muito sentimento.
Acho que sim, será boa ideia contactar de novo essas pessoas. Para lhes mostrar a importância que elas tiveram na sua vida nos EUA bastará dar-lhes o link deste magnífico post.

Bom resto de semana, beijinhos.

Kalinka disse...

MARY
gostei de ler sobre esse jantar especial...como é bom sermos bem acolhidos.

A minha sobrinha é uma jovem de 25 anos, peço desculpa por deixar este pedido:

Não é meu hábito andar a incomodar pedindo favores, mas tendo em atenção a situação da m/sobrinha, que aguarda a todo o momento um «transplante de coração» se puder vá ao blog dela e, responda ao questionário sobre «grupo sanguíneo» ela está a fazer uma sondagem que é muito importante para ela:
http://pikenatonta.blogspot.com/

Qual é o seu tipo de sangue?
PS - Coloquei uma sondagem no blog. Agradecia a TODOS que pudessem responder pois não custa nada... MUITO OBRIGADA!!!!!

ATENÇÃO: há pessoas que não entendem e pensam logo que é para dar sangue, NÃO, NÃO É...é apenas uma sondagem sobre grupo sanguíneo.
QUEM PUDER COLABORAR, lá no blog dela, eu fico muito grata.
Um abraço.

Ai como eu preciso de um Abraço!!!

lola.f disse...

Até eu já jantava...rsrsrsrsrrsrsrs
são momentos como esses que vale a pena viver e ser feliz!
Acho que sim, seria uma boa ideia contactar de novo essas pessoas.
É tão bom quando a gente fica a saber que fez bem para alguém ou vice-versa.
Acho que você deveria demonstrar os seus sentimentos.
Você sabe narrar os factos vividos com muito sentimento.bjs

Liz / Falando de tudo! disse...

Estou aqui na França à 6 meses e me sinto muitas vezes assim "dentro dum filme", como se estivesse apenas olhando uma Tv...pra mim tudo muito estranho, pois a cultura francesa é muito diferete da brasileira. Fico como você, falo pouco, sou bem acolhida, mas deslocada, mesmo quando todo munda esta fazendo tudo pra me agradar!
Mas em casa..num tem lugar melhor!
Sei que daqui a algum tempo, me sentirei em casa em qualquer lugar aqui neste pais que é lindo!

Anônimo disse...

Em 24/01/2008, às 21:37:27, Roberta | fotolog disse:
Maryyyyyyyyyy vc que é lindaaaaaaa!

A beleza está nos olhos de quem olha!

beijossssssssssssss

Anônimo disse...

Mary, essa sensação de estar dentro de um filme, já tive algumas vezes. É maravilhosa. Geralmente é a música que me transporta para outros mundos, inclusive para dentro de uma linda história.
Fiquei lendo essa bela história e pensando no inverso.
Na realidade, a recepção calorosa desses primeiros amigos poderia ser vista de outra forma, se não fossem os recepcionados tão especiais.
Sempre acredito que criamos as situações, as circunstâncias, as cores do ambiente.
Certamente, sua família, recém chegada, deu cor e calor ao maravilhoso jantar que, sem vocês, não seria tão maravilhoso.

São lindas lembranças que seu coração guarda.

beijos

nd disse...

Boa noite,

Sempre uso parte frase suas poesias para mandar mensagens pessoais meu namorado.
Um grande abraço.

Anônimo disse...

Olá...
Sou sobrinha da Te... Acabei de chegar e estou me sentindo em casa!

Sou filha da Çãozinha...

Grande beijo.

Menina do Rio disse...

Minha querida, como eu fiquei um tempo sem PC, ainda estou tentando me atualizar nas visitas. Uma hora eu consigo, rs...

Deixo-te um beijinho e votos de uma semana feliz

El Navegante disse...

Querida Mary, sem dúvidas que vc tem muitas virdudes, e além da delicia dos momentos do que falou, tuas lembranças ditas con tanta humildade e respeito, que agora sao uma saudade na sua alma , fala muito bem de qué categoría de mulher, de ser humano que vc é.
Eu viví isses instantes como si fossi um mais aquela noite.
Beijo

Fragmentos Betty Martins disse...

Querida Mary







______________cheguei!!!
agora é só_____um olÁ:)



e_________de todo coração__________




agradecer____________a visita na minha ausência


____________voltarei mais tarde
para ler e_____________comentar





beijOs com carinhO