Estou me preparando para minha viagem ao Brasil daqui a duas semanas. Vamos à formatura da minha filha, que terminou seu curso de MBA. Lógico que estamos muito felizes, principalmente porque ela decidiu morar no Brasil. Por quê? Ficou encantada com o povo, com a naturalidade, com as coisas simples, e se sentiu plenamente feliz. Isso não é tudo o que queremos? Ver nossos filhos felizes?
Antes, eu ia ao Brasil sem pensar, arrumava a mala e nem cogitava em tudo o que penso hoje: dirigir até o aeroporto, fazer o check-in, passar pela segurança, tirar os sapatos, depois ainda passar na inspeção na máquina que detecta metais. E, todas as vezes, ela apita para mim devido ao meu joelho bionico. Tenho, então, que ser revistada! Depois disso, algumas vezes, pegar o trenzinho que nos leva ao portão de embarque. Ficar atenta olhando os voos nos computadores espalhados por todo lugar para ter certeza de que no ultimo minuto, não mudam de portão! (isso ja me aconteceu).
Como não existe voo direto para o Brasil de Cincinnati, vamos enfrentar o voo inicial de 1 hora e meia para Chicago, e, depois, 10 horas de voo para São Paulo. Antigamente para mim isso tudo era uma aventura! Por que o tempo transforma tanto as coisas? O que antes parecia simples hoje exige planejamento, esforço e paciência. Mas em compensação será que com isso não aprendo a valorizar mais o caminho?
Com os preparativos para a viagem, surgem alguns sentimentos que somente quem mora em outro país entende - que são as lembranças. Aquela sensação de aconchego, os aromas, a comida, a música, as mesmas ruas; tudo relembra momentos da infância ou juventude.
Falar o português cria um sentimento de “voltar para casa”. Cada lingua tem uma musica diferente, entao, as vezes, a entonação ao falar o Português torna-se visível a familia - puxar um "r" diferente, ou tentar adequar uma palavra - um "Portenglish". Mas o gostoso mesmo é a conversa espontanea com pessoas desconhecidas no ponto de onibus, o barulho das ruas, a alegria do povo que reforça aquela sensação de identidade.
Além da leveza, há uma mágica em perceber que uma língua carrega não apenas palavras, mas sentimentos. Falar Português é como abrir um baú de memórias que vivem escondidas em algum canto desse coracão repartido. Um questionamento interior sobre "pertencimento". De vez em quando, sem querer, ao tentar passar por uma fila sai um "excuse me" em vez de "dá licença".
Não sei se sou mais brasileira ou americana. Aqui sinto falta de lá - e lá carrego o aqui. Acho que meu coração, ao invés de escolher, criou raízes em ambos lugares. Talvez esse "pertencimento" que tanto procuro não esteja em um só território, mas dos dois lados dessa ponte viva que construí e que conecta minhas duas metades.
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