13 dezembro 2007


(Transformei essa minha foto de hoje com tons antigos para combinar com o texto)

HISTÓRIAS DE AMOR E VIDA NO NATAL





A época de Natal é de fraternidade. E de reflexão. E aqui eu quero repartir com vocês, histórias de amor. Histórias que um dia poderão acontecer com um de nós.

Estar voluntariado nesse "Asilo" (chamemos assim, embora a realidade dos EUA seja muito diferente da realidade do Brasil), me faz ver coisas alem do que vejo.

Aqui é muito comum as pessoas velhas que possuem um imóvel, uma casa por exemplo, entregarem essa casa para o Asilo, como pagamento de sua estada. E é isso que muitos fazem, pois o custo é muito alto. Varia de $2,500 a $4,000 dólares/mês.

Ontem mais uma vez fui fazer o meu serviço voluntário. Vou dizer a vocês, que com a idade que estou, e contando toda minha vida profissional e tudo que fiz, nada me deu na vida mais satisfação, do que isso que estou fazendo. Difícil explicar a sensação de ajudar pessoas sem ganhar nada.
Sabe, isso que estou falando pode ate parecer "piegas" ou que estou fazendo "propaganda de mim mesma". Não e não.
Não estou recebendo em dinheiro, mas em experiencia de vida. E tambem a oportunidade de refletir muito.

Aquele lugar é um mundo de histórias, de vidas que tem um valor imensurável para quem participa dele.

Quando chego, me entregam um papel com a lista das pessoas que tenho que visitar. Existem as alas "A", "B" e "C", então lá vou eu a procurar meus pacientes.

Existe uma senhora que fui da primeira vez, que seu marido morreu de derrame cerebral em Agosto. Ela se sente muito sozinha, e gosta de conversar, e mostrar na parede as fotografias de seus sete filhos, a casa que o marido construiu, o carro que eles tinham. Há uma foto dela com ele na parede, bem perto dela, que foi tirada uma semana antes dele morrer.

Ontem pela segunda vez fui visita-la, e ela ficou feliz ao me ver. Conversamos bastante, (deixo-a falar mais sobre o que quiser falar). Ela já e bem velha, mas com traços bonitos.
Ontem, olhei na parede do outro lado da sua cama e vi sua fotografia com o marido, quando eles se conheceram. Achei tão bonita, que pedi para tirar uma foto dessa fotografia:



Eles se conheceram e ela tinha 16 anos e ele 18. Diz ela que foi um amor a primeira vista, e que nunca mais se separaram (foram casados 68 anos).
Ela fala e se emociona. E eu me emociono.

Sai de lá e fui visitar o Norman. Ele é um velhinho muito simpático. Foi Sargento na 2a. Guerra Mundial e com muito orgulho, conta todas as histórias. O companheiro de quarto dele parece estar meio "cansado" de ouvir essas histórias (risos), pois quando ele fala, liga a TV...

Esse homem tem um orgulho tão grande de ter ido para a guerra. Tem uma cômoda do lado da cama, cheia de fotografias. Ele me deu uma foto dele com o Presidente Ronald Reagan, os dois se cumprimentando. Tem medalhas, panfletos, tudo que vocês possam imaginar.

Pedi autorização dele, para tirar a foto de um cachorro de pelúcia que a bisneta dele presenteou-o. Uma especie de almofada.
Vejam que bonito:



As quatro horas fui ajudar o Toni do Restaurante a servir o jantar. Como gosto de fazer isso!
Pedi a semana passada um mapa das mesas, e decorei os nomes. Assim fica mais fácil de servir os pratos. O Toni os prepara e eu vou nas mesas levando, e também um carrinho com as bebidas, chã gelado ou água gelada.
Cada um tem uma dieta. Ontem fui levar na mesa do Norman, as sobremesas. E na mesa dele, tem uma velhinha chamada Isabella.
Ela não pode comer doce por ser diabética. Então ela me disse: "Olha, me de uma torta de maca hoje, por favor. Eu não quero comer essa fruta". O Norman pegou o pratinho e disse: "Não Isabella, você não pode, você e diabética".

Nossa! A velhinha levantou, e parecia que ia ter um ataque! Risos. Colocou o dedo na cara dele e disse: "Olha aqui, eu tive um marido durante 45 anos e não quero ter um outro nesse lugar aqui que fique podando o que posso ou não fazer!!!"
Todos olharam... e riram. Depois soube que ele gosta dela, mas ela não quer nada com ele.

Viram? O amor existe em todas as idades...

Há uma velhinha (essa eu adoro) que vem sempre com um chapeuzinho vermelhinho, mas ela e uma graça! Mas a gente pode notar que ela tem um temperamento que não e fácil!
Quer sempre duas sobremesas, esconde um pedaço de torta do lado da cadeira e diz que não ganhou torta (risos).
Ela me lembra sempre uma velhinha que faz parte das grandes piadas de velhos aqui nos EUA, a Maxine:



Sabe, são todos umas crianças-grandes.

Tenho muita pena de um velhinho que vem todas as tardes para jantar com sua mulher. Ela teve derrame cerebral e ele da comida em sua boca. Ontem, quando fui levar o prato dela, os dois estavam dormindo, ela com a cabeça no seu ombro e eles de mãos dadas.

Mas de tudo, o que mais me impressiona e um velho cego. Ele e o único que sempre elogia a comida. Quando coloco seu prato, ele diz: "O que tem hoje?" Então eu falo, e ele diz: "Nossa, esta parecendo uma delicia". "O cheiro esta tão bom".
Coloco café e ele diz: "Muito obrigada, o café esta delicioso".
Ontem ele me perguntou: "Esta nevando hoje?" Eu disse: "Não, esta apenas muito frio".
Ele disse: "Adoro esse tempo de frio, essa neve, e com a neve, tudo fica tão bonito"
Naquele momento senti uma coisa aqui dentro de mim, inexplicável. Vejam, aquele cego "VIA" a paisagem que nos, que enxergamos com dois olhos, talvez não vejamos com o coração que ele vê.
Talvez um dia ela já tenha visto, e guarde essa imagem. Talvez, ele nunca tenha enxergado, e imagine essa imagem.
O engraçado e que vou chegando perto da mesa e ele diz: "Olá, obrigada por nos servir". Ele pressente a presença, uma coisa admirável.

Meus amigos... quero dizer a vocês que essa tem sido uma grande experiência para mim. Gostaria que um dia vocês pudessem experimentar esse sentimento.
Quantas mãos se estendem nesse caminho a procura de uma palavra. Nos temos tanto! E eles, na reta final de suas vidas, tem tão pouco! E valorizam tanto tudo que tem.

Termino aqui com uma propaganda que tinha no Brasil ha muitos anos atras.

Aparecia o pai com o filho pequeno, e ele dizia: "Come, meu filho!" E o menino fechava a boca e não queria comer.
Depois, mais tarde, o filho já adolescente, o pai viu o viu fumando. Arrancou o cigarro da mão do filho e disse: "Não fume! Isso faz mal para a saúde!".

Então a propaganda mostra muitos anos depois, o pai velhinho e o menino um homem, o velho sentado na mesa, e ele dizendo: "Come pai! você precisa comer". E o pai fechando a boca, não querendo comer.
Depois o filho vê o pai escondido fumando na área, vai lá tira o cigarro da mão do pai: "Pai, cigarro faz mal!".

E isso me faz pensar: o que é a vida senão um reciclar?

®Mary Fioratti

6 comentários:

Anônimo disse...

Querida, mesmo não conhecendo essas pessoas, já gosto delas! Eu adorava fazer voluntariado, e vou fazê-lo! Algo que não vou deixar de fazer!
Bonita essa atitude, esse teu coração tão doce, tão maravilhoso! Sorte desses velhinhos que estão contigo :)

Querida, obrigado por todo o carinho. Penso sempre em ti e amo-te.
Um beijinho muito grande.

Anônimo disse...

Mary minha amiga que amo....
Teu texto hoje me pegou de "calça curta"..rsr
Cada linha foi um emocionar crescente!
Estou aqui...sózinha, com a alma emudecida diante da vida, que nos monta e remonta histórias. Emoções tantas, sentimentos aos milhares, escrevendo a vida de cada um de nós...
Fico imaginando quantas lágrimas ou quantos sorrisos trarei dentro do meu coração, quando estiver bem velhinha....quais lembranças terei....
De qual tamanho e intensidade, será a solidão que me aguarda...rs
Te amo querida
Obrigada por trazer estas fatias de vida....momentos que ajudam a mudar um pouco o foco dos nossos interesses.
E que casal mais lindo este da foto...dá vontade de ficar olhando e imaginando este amor por horas..
Beijos cheios de carinho...te amo!
Bea

Rosa Maria disse...

Mary
Que ternura de texto!
Deve ser uma experiência muito enriquecedora.
Por favor, continue a contar estas suas presenças com os velhinhos.

Beijinhos

Anônimo disse...

Post emocionante, Mary. Fazer o bem traz mesmo esta sensação de felicidade. Desejo a você um bom final de semana.

Kalinka disse...

OLÁ MARY
ADOREI ler este seu texto tão intenso, cheio de Vidas próprias, de pessoas que têm muitas histórias para contar. Eu sei bem como é, pois trabalhei 4 anos num Hospital com gente idosa e era tão comovente estar ali ouvindo as suas histórias de Vida.
Que Deus lhe dê muita saúde para continuar ajudando quem mais precisa.

Vou começando, aos poucos a deixar umas imagens alusivas ao Natal.
Estamos em contagem decrescente. Entretanto vou sabendo de coisas, e gostaria de as divulgar, quem sabe, possa interessar alguma delas?
Daí que o título seja:
SABIA QUE...

FESTAS FELIZES.

Kafé Roceiro disse...

Oi Lindona,

como vai? Tá de mau de mim?
Vai lá na roça me ver, sá? Tem um tira-gosto pra nóis lá, um cafezinho.

Um beijão.