AQUELE VELHO

Aquele velho
de olhar perdido
trouxe-me lembrancas
de meu pai
dificuldade de andar
rosto de expressao indefinida
nao sabia se era de pura anestesia
ou cansaco de vida
Aquele velho
andava com dificuldade
seus ombros estavam abaixados
sua cabeca branca
andava lentamente com cuidado
a bengala tateando o caminho
naquele momento percebi o quanto
aquele velho sentia-se sozinho
Nao sabia se era minha imaginacao
ou se apenas eu via aquilo
que sentia em meu coracao
Mas aquele velho mexeu
nas profundezas de minha alma
enxerguei nele meu pai
e por que nao pensar...
que me vi em seu lugar?
Essa solidao tao unica
que nao ha remedio que a cure
essa procura incessante
esse constatar agoniante
Nao sei porque
aquele velho trouxe-me sentimentos
adormecidos e desconhecidos
naquele momento
®Mary Fioratti
Em Cincinnati ha poucos onibus, acho que apenas umas duas linhas que vao daqui ate a cidade.
Um dia desses eu estava vindo do servico, e quando parei no sinal, vi um onibus parar na esquina e com muita dificuldade, desceu um velho.
Apoiava-se com uma bengala e andava com muita dificuldade. Aquele velho foi andando por uma calcadinha estreita, olhando para os lados.
Senti uma fragilidade imensa em seu rosto e na sua figura fragil. Ele pedia carona a cada carro que passava.
Virei a minha rua e la em baixo dei a volta. Senti dentro de mim uma vontade de ajuda-lo com um misto de medo.
Esse medo me fez pensar no que somos transformados. Tornamo-nos insensiveis e egoistas, por medo.
Dei a volta, abri a janela e perguntei para onde ele ia. Ele respondeu: "Vou ao medico, fica no Sul da rua Kenwood.
Abri a porta e o velho subiu com dificuldade. Coloquei sua bengala na frente e ele sentou.
Pensei na hora: "Que mal poderia me fazer aquele velho?".
Ele foi conversando dizendo que morava em Clifton (um bairro longe de Blue Ash onde moro), e que pegava o onibus porque o seu medico ficava em Blue Ash.
Coincidentemente era o mesmo predio que minha filha tem seu dentista.
Parei na frente e ele olhou para mim e disse: "Obrigada, nossa, a sra. me economizou tantos passos!".
Deixei o velho, e vim pensando. O mundo esta tao violento que nos faz ter medo desses pequenos gestos.
Mas eu me senti tao bem fazendo isso. Foi como se eu tivesse ajudado meu pai.
E depois veio na minha cabeca, no caminho de volta, a fragilidade do meu pai, andando na area de casa, equilibrando-se (tinha tontura). Depois sentado na sua cadeira na area, ficava a contar historias do passado. Meu pai viajava...em pensamento ele viajava muito...
Lembrava-se das ruas que havia morado, das pessoas, de nomes... Perguntava sempre do "Tio Joao". Olhava para mim e dizia: "Onde mora agora meu Tio Joao?". O Tio Joao ja havia morrido ha tanto tempo!
Entao ele viajava em seus sonhos.
A cada ano que passa, que fico mais velha, a minha compreensao com os velhos aumenta. A minha paciencia e maior.
Penso que um dia, quando eu ficar velha, quero que as pessoas tambem tenham paciencia de ouvir minhas historias.
Quando a Patti for para a Faculdade, eu quero fazer um servico voluntario com os velhos.
Aqui nos EUA ha tantos velhos esquecidos em Asilos. Se bem que os Asilos sao muito bons e confortaveis.
Mas eles sentem falta de conversar, porque sao tao poucas pessoas que os escutam.
Queria assim, sentar e ve-los mostrando fotografias de seus filhos, seus netos. Ouvir suas historias.
