26 abril 2006




A INTEMPORALIDADE DAS TARDES NA TEMPORAL REFLEXAO



®Daufen Bach


a tarde deste domingo, quente e úmida, é igual a muitas
outras tardes vividas neste sol, banhadas neste
mormaço neste mesmo solo, tardes de outros
séculos, de outras vidas.

é compreensível diante da fragilidade de minha existência,
ou da fragilidade da existência de tantos outros que
passam ou passaram por estas tardes, a não indagação
do existir, o não saber se neste solo floriram outros
canteiros, se outra tarde em um ano qualquer, no ano I a.C
ou no ano I d.C, numa tarde do ano mil e alguma coisa,
possuíam a irrequieta solidão inconformada ou se
também foram pasmas de ações não concluídas.

será que nestas tardes antigas, de outros tempos, a poesia,
esse jeito subversivo de falar coisas que dão trabalho,
coisas que tiram o sono...essa parte da alma, evidente
como sorriso de criança que tem pão sobre a mesa,
que entre o claro e o oculto, entre a fartura e a fome
tem apenas o riso de quem aceita a parte que lavra e
busca a melhor parte do todo...será que estas tardes
tinham um outro segredo?

e sempre e todo o sempre teve essa banal responsabilidade?
essa tarde ordinária que rouba coisas que caem pelo chão
do assoalho...? esse medo de perder e, sempre prostrado,
com os dedos nas frestas a buscar algo impossível sobre
os mares, ao ares, os continentes da minha revolta...?
esse gosto de camomila na boca a incitar o asco das dores
do mundo, fazendo-me hipocondríaco, um perdido no tempo
a macerar ervas na busca de tinturas e antídotos?

todos os entes imaginários que povoaram por milênios esta tarde
incrustada na minha mente de um dia apenas, sabem e dizem
da inconstância e da incoerência de querer ser apenas eu o
gestor de todas as minhas vontades e sentimentos que, por certo,
não envelhecerão na minha velhice e não morrerão junto comigo
na minha velhice, flutuarão e habitarão outros corpos de
necessidades iguais as minhas e irão ver todas as tardes
que eu nunca vi, buscando sempre respostas ou inventando
novas interrogações regadas a absinto.

o vento a soprar estas folhas que varrem os meus pés... a debruçar
palmeiras e amontoar confissões que fiz ao longo trajeto de
minha imaginação, não podem sem mais nem menos parar de
soprar e, esquecido deixar uma fotografia do espaço que eu
quis viver ou, que podia ter vivido. O azul que expande e rompe
o céu de todas essas divagações, é alimentado de brisas e de
reflexos em espelhos catalisadores de emoções não refletidas.


* * * * * * * *

Daufen: Coloquei essa poesia no meu Blog porque achei uma das poesias mais lindas que voce ja fez!
Voce é um poeta de primeira grandeza! Essa poesia é uma reflexao na vida de todos nos. Um relato da alma.
Um beijo,
MARY

5 comentários:

Anônimo disse...

Sem duvida um retrato da alma!
Lindo o poema, nao conhecia.

Beijinho musical ;)

Anônimo disse...

É mesmo lindo!
Um abraço grande para si!
Dani

Anônimo disse...

Daufen meu amigo!!!!
Seja onde for, ler você é um presente para os olhos...cântico para a alma!!!
Neste cantinho lindo da Mary então.....ficou sublime!!
Quero deixar mais uma vez resgistrado todo meu respeito, amizade e profunda admiração por você meu amigo tão caro ao meu coração!!!!
Show de lindo!!!!! Show de lindo!!!
Bea

Unknown disse...

UN INSTANTE , UNA VIDA ...
UNA TARDE ETERNA ...


QUE BELLA POESÍA .

SALUDOS

ADALBERTO

mixtu disse...

muito lindo...
jinhos e besitos,amiga e bom descanso :)
Espero que cuides das minhas plantas e das tuas :)