11 julho 2006




A HORA DE SER FELIZ




Adotei minha filha com quatro dias...e a hoje a vejo com 16 (quase 17 anos).
Desde pequenos, a mae principalmente, passa por todas as fases que o filho passa.
E com isso ela revive a infancia. Retrocede ao tempo, faz coisas que ja fez, e velhos conhecidos sentimentos afloram.
Sentimentos que estavam esquecidos e enterrados com o tempo. Tornamo-nos criancas.
E nos entusiasmamos com a alegria que vem deles.
Depois eles vao crescendo... aos poucos vamos vendo as pequenas diferencas que se acentuam, em detalhes talvez ate minimos, mas que somente uma mae estando perto, pode nota-los.
Quando minha filha tinha 7 anos, disse assim: "Eu ja estou mocinha, pois sei fazer bola com o chiclete e sei andar de bicicleta".
Aqueles pequenos aprendizados significavam para ela A VIDA. Como seria facil se a vida fosse somente aprender a fazer bola com chiclete e andar de bicicleta!
Depois ela disse que quando fosse mocinha, queria lavar louca e dirigir. Acho que o primeiro projeto ficou esquecido, embora ela tenha aprendido o segundo.
Foi o tempo dos longos abracos, dos beijos na boca, do carinho espontaneo. Na multidao, eu sempre encontrava o olhar dela a procura do meu.
Tantos anos se passaram, no entanto para uma mae, é como se fosse apenas cinco minutos... de repente a gente olha, e se assusta.
Eles comecam a crescer, a ter sua propria personalidade. A nos encarar de uma forma diferente.
Sempre levei minha filha em todo lugar de carro. Quando ela aprendeu a dirigir, (aqui se tira carta com 16 anos), achei bom que ela fosse independente. Depois de um certo tempo, comecei a me sentir uma inutil! Eu a via sair, pegar o carro, e eu tinha vontade de leva-la.
Sensacao de inutilidade.
Ha alguns meses atras, ela ainda me chamava na hora de dormir, para abraca-la, beija-la, e nessas horas me contava coisas que se passavam com ela.
As vezes eu queria estar no meu computador, e ela me chamava, e eu ia, mas muitas vezes com vontade de estar aqui.
Hoje... ela nao me chama mais...ela "ela ja esta adulta" para beijar... "Pode dar um abraco, mae, mas beijar, nao!".
Lembrei-me entao da epoca que ela estava com 12 anos e tinha vergonha que eu acenasse da janela quando ela pegava o onibus.
Entao, hoje, eu estou aqui no meu computador, e ela esta em seu quarto, a musica tocando alto no CD, ouco o barulho dela dancando, ou falando ao telefone. Quando subo ate seu quarto...ela olha para mim como se eu fosse uma intrusa.
Outro dia, antes de dormir, fui ate seu quarto e disse: "Posso dar um beijo?" E ela: "Nao, so um abraco". Mas fez uma cara que eu preferi nao dar nem o abraco.
Subi para meu quarto, e daqui a pouco ela estava la: "Mae, desculpa, pode dar o abraco sim".
Quantas contradicoes existem nessa fase. Nao somente contradicoes da parte deles, mas contradicoes de nossa parte.
Queremos ser modernas, e ao mesmo tempo, conservadoras.
Ontem, nos duas no Supermercado, e ela pergunta: "Mae, se um dia eu pedisse, voce me compraria camisinha?" E eu: "Compraria sim". E ela: "Maeeeeeeeeeeeeee voce nao deveria dizer isso, se um filho meu dissesse isso, eu bateria nele". E eu disse: "Filha...nao acho que voce deveria fazer isso por fazer, mas quero apenas dizer que o dia que achar que deve, que chegou a hora, peca sim para mim, eu compro".
Que coisa mais dificil de se dizer. Por mais MODERNA que eu seja.
O ano que vem, ela ira para a Faculdade. Aqui nos EUA é normal que o filho more no dormitorio da Faculdade, e alguns (poucos) moram em casa.
Os pais nao veem a hora dos filhos sairem de casa. Ficam ansiosos para deixa-los seguirem suas vidas.
Lembro de uma das maes, que dizia: "O ano que vem, quero ver se arrumo Faculdade no Alaska para meu filho"...
Essa fase dos 17 anos, é uma fase de preparacao para os pais, para que deixem os filhos seguirem seu rumo.
E eles se tornam tao chatos, cobram tanto, dao tanta preocupacao, sao tao ariscos, que Deus fez até isso certo: essa fase da chatice, para encararmos com mais naturalidade a ida deles para algum lugar.
A principio quando eu pensava, desatava a chorar... nao podia nem "pensar" no fato de minha filha sair de casa.
Hoje ja penso diferente. Penso que ela DEVE ter essa oportunidade de sair, morar sozinha (com uma companheira de quarto), para que ela possa dar mais valor a tudo que tem hoje (e sei que ela vai dar!).
Gostaria de nao precisa-la acordar pela manha e arranca-la da cama, mas que ela por sua propria iniciativa, levantasse.
Mas essa parte a culpa é minha! Sempre gostei de paparicar, é o meu jeito de maezona.
E ontem eu pensei: esta na hora de procurar minha felicidade. Quando minha filha sair, eu quero fazer muitas coisas para preencher o meu tempo. Quero talvez voltar a estudar, fazer um Curso de Espanhol (que aqui é tao necessario). Vou me dedicar mais a ginastica do que me dedico hoje. Quero ler mais. Nao estar sempre correndo feito uma louca, parecendo que o relogio anda contra mim.
Quero fazer as coisas mais devagar. Nao me desesperar com minha falta de tempo. Curtir jardinagem, televisao, andar a pé, escrever poesias, nos fins de semana, dormir ate mais tarde. Deixar a casa como esta e nao correr com nada.
Pensar em mim.
Na minha hora de SER FELIZ.


®Mary Fioratti

8 comentários:

Unknown disse...

Mary, minha amiga (posso tratá-la assim com carinho?);li muito pausadamente todo o seu texto, como se estivesse a soletrá-lo. Posso dizer-lhe que foi um relato muito bonito, muito intenso; tudo aquilo que qualquer mãe/pai passam.
Tenho uma filha casada, no fim do tempo de gravidez, por estes dias vou ser avô; tudo o que conta da sua filha, se passou com a minha. São essas mudanças, quase bruscas, que ficamos muito tristes e abandonados. Depois vêm o nosso racionalizar, aceitamos e entramos noutro ciclo, o que acontecerá quando ela começar a namorar.
A partir de agora, vai ter mais tempo para si; mas…………Vai lhe custar um pouco essa mudança, vai julgar que está a fazer a sua vida mais independente, mas demora um pouquinho isso acontecer.
São as mudanças de vida que nós temos, umas custam mais que outras, mas se Deus quiser vai fazer essa mudança e reencontrar o seu equilíbrio emocional juntamente com o amor da sua filha.
Obrigado pelas suas palavras e pelas visitas.
Sejam felizes, porque precisamos e merecemos que a felicidade more connosco.
Bom resto de semana.
Bjnhs
Do Porto-Portugal
Do amiguinho
ZezinhoMota

o alquimista disse...

É tão bonito estar aqui sentado e ouvirte falar das coisas bonitas que te rodeiam...

Umdoce beijo

Zé Carlos disse...

....que lindo relato Mary querida. Me deu uma saudade de minha filha com 4 anos de idade que nem pode imaginar.
Até esta música dolente tem o sabor de coração de mãe.
Vc ultrapassa sempre nossas expectativas. Bjs do Zé

Joel Langarika disse...

Yes, we can always be happy, in all stages of our life, but, when life becomes another life-kids- and then, they grow older, finally, you can say It is time for me-but always is time for ourselves. cheers!

Anônimo disse...

Mary,
Lendo e refletindo...Impossivel para mim ler este seu relato e nao lembrar dos meus "meninos",de toda estas passagens relatadas,como dizem e tudo igual,so muda o endereço.
Tambem passei por este sentimento de inutilidade,o que fazer agora com o tempo que nos sobra...,e quando eles saem de casa uma sencacao de vazio muito grande.A casa que antes parecia nao caber ninguem ,agora e tao grande...espacos vazios, casa sempre limpa..nada espalhado pelos cantos..,derepente tudo aquilo que nos fazia reclamar,faz falta,e nos sentimos um pouco orfaos dos filhos.
Mas a vida continua,e, e mesmo neste momento em que temos que procurar coisas novas ,ou coisa que sempre tivemos vontade de fazer,mas deixamos de lado,nao por culpa dos filhos,mas por nao achar tao importante naquele momento.
Tudo e aprendizado,eles por um lado buscando seus caminhos,e nos pais ,torcendo por eles.
Sim,felicidade sempre!!!!!
Beijos
Te

Anônimo disse...

Oi Mary

Já fazia algum tempo que não vinha aqui te visitar.E feliz fiquei ao ler tantas poesias novas, tantas emoções relatadas que até me confundem.Que coisa linda a alma de um poeta ou poetisa, as palavras saem soltas ,organizadas, verdadeiras, emocionantes.Sabe, Mary, estou na mesma situação, perdi uma irma minha em 92 e assumi sua filha com cinco anos de idade ,a Leticia.E ela se tornou minha filha também. Lendo cada pedacinho de teu post, parecia que estava voltando no tempo...Qta coisa vivida, qta correria, até hj,rsrrrs.Mas mesmo assim agradeço a Deus por isso. Lindo post ,amei e me ví um pouquinho ali também. Bjus Bea

Jonas Prochownik disse...

Mary, não espere mais nada para ser feliz.
Você já perdeu tanto tempo !
Está envelhecendo e logo ficará muito difícil ser feliz.
Corra, querida, antes que seja tarde demais !
Kristal

Anônimo disse...

Olá, Mary! Sempre te vejo no blog do Zé e adoro seus comentários, vc bem sabe. Hj resolvi dar uma passadinha por aqui e... que lindo esse relato.

Nossa Mary, eu tenho um casal de filhos e tanto receio dessa fase por vc descrita, que penso em deixar o Brasil e retornar para a Inglaterra assim que as crianças entrarem na adolescência por medo da violência que enfrentamos em nosso País. Mas pelo visto, o afastamento não depende do lugar em que estamos, né?! Deus nos ajude e ilumine nossos bebês por onde quer que eles sigam. Quanto a ti, seja mesmo MUITO FELIZ!

Adorei teu espaço, voltarei mais vezes :) Quando puder, visite-me tb. Se tiver interesse, podemos trocar os links ;)

Beijos de muito carinho,
Cris